Por JULIE WERNAU
Chinesa visitando Hong Kong coloca chocolates na mala antes de voltar para a China continental às vésperas do feriado que celebrou o Ano Novo chinês, em fevereiro. Liau Chung-ren/Reuters
Chinesa visitando Hong Kong coloca chocolates na mala antes de voltar para a China continental às vésperas do feriado que celebrou o Ano Novo chinês, em fevereiro. Liau Chung-ren/Reuters
A Ásia está economizando no chocolate.
A desaceleração do crescimento econômico e um aumento nos preços têm derrubado a demanda da região por cacau, o principal ingrediente do chocolate, azedando as apostas de investidores, operadores do mercado e grandes companhias de alimentos depois de uma disparada no consumo nos últimos dez anos.
A quantidade de cacau processada por empresas asiáticas caiu 9,3% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a Associação de Cacau da Ásia, e especialistas do setor dizem que a China é responsável por grande parte do declínio. É a primeira vez que o dado, um indicador da demanda dos compradores, cai três trimestres seguidos desde que a associação começou a divulgar os relatórios, em 2011.
A queda já pesa sobre o mercado de futuros de cacau, que movimenta US$ 2,4 bilhões anualmente. Os contratos futuros já recuaram 9,3% ante um pico de três anos e meio atingido em setembro. Desde o início do ano, fundos de hedge e outros investidores reduziram em cerca de 56% suas apostas otimistas líquidas, de acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos Estados Unidos.
“A China é considerada por todos na indústria como a próxima fronteira do crescimento global”, diz Peter Johnson, diretor da Transmar Group, uma trading americana de cacau. “Se esse motor de crescimento desacelera, os preços dos grãos de cacau devem cair significativamente.”
A China tem como meta uma taxa de 7% de crescimento do PIB para este ano. Em 2014, a economia chinesa se expandiu 7,4%, o ritmo mais lento em 24 anos.
Em Johor, na Malásia, as vendas caíram na Guan Chong Berhad, empresa que transforma os grãos em manteiga de cacau e cacau em pó. Fabricantes de chocolate estão encomendando menos matéria-prima porque os consumidores da região simplesmente estão comendo menos, diz Jessy Chuah, gerente de vendas globais da processadora de cacau.
“Se as pessoas não sentem que a economia está boa, elas cortam o consumo do chocolate”, diz ela.
Um boom na demanda asiática — alimentada por um aumento da renda disponível — contribuiu para uma expansão de dez anos no mercado de cacau que alçou os preços a níveis recorde no início de 2011. Agora, os consumidores da Ásia e outras regiões estão recuando à medida que a economia desacelera e os preços sobem no varejo, dizem analistas e executivos da indústria.
Os preços de produtos de chocolate na China subiram 5,6% em 2014, segundo a firma de pesquisa de mercado Euromonitor International. E a tendência deve continuar. Em 2014, as grandes fabricantes de chocolates Mars, Inc., The Hershey Co. HSY -0.07% ,Nestlé SA, NESN.VX -0.14% Lindt & Sprüngli AG LISP.EB +0.30% e Mondelez International Inc. elevaram os preços para 2015 em até 8%.
É verdade que a demanda ainda está recebendo algum alento de outras partes do mercado. A Organização Internacional do Cacau previu, em fevereiro, que a produção global do grão vai ficar aquém da demanda este ano em 17 mil toneladas, o segundo déficit em três anos. Analistas estimam que a safra mais recente de Gana, segundo maior produtor do mundo, vai decepcionar, o que deve sustentar os preços nas próximas semanas.
David Martin, fundador da gestora Martin Fund Management, que administra US$ 95 milhões, está otimista porque acha que o enfraquecimento da demanda é temporário. “Você tem uma classe média crescente”, diz ele. “E eles estão aderindo a esses itens.”
A Hershey divulgou lucro menor que o esperado no primeiro trimestre devido a uma queda de 47% nas vendas chinesas e reduziu sua previsão de vendas internacionais para este ano.
Em fevereiro, executivos da Nestlé disseram que enfrentam desafios com o desempenho da empresa na região da Ásia e Oceania. A demanda fraca na Ásia acompanha a queda no consumo de cacau na América do Norte e na Europa. Estas são as duas maiores regiões consumidoras do mundo, embora venham apresentando um crescimento da demanda menor que o da Ásia.
No Brasil, o setor registrou queda de 9,5% no processamento durante o primeiro quadrimestre de 2015 em relação ao mesmo período do ano passado, com a moagem de 72 mil toneladas. “O mercado interno está fraco e a indústria do cacau está sofrendo”, diz Walter Tegani, secretário executivo da Associação Nacional da Indústria Processadora de Cacau (AIPC). Tegani acredita que o processamento vai encerrar em queda em 2015 pelo terceiro ano consecutivo. “Quando a economia se retrai e existe perigo de se perder o emprego, o consumidor corta o que considera supérfluo”, diz. O Brasil é hoje o sexto maior produtor de cacau do mundo. Na safra 2014/15 (maio de 2014 a abril de 2015), a produção medida pela AIPC atingiu 215 mil toneladas, abaixo das 290 mil toneladas registradas em 2012/13, que foi a maior em mais de 15 anos. A expectativa é que a safra 2015/16 registre nova queda devido à estiagem que atinge as regiões produtoras da Bahia e à redução no consumo de chocolate no mercado interno, já vislumbrada pelo fraco desempenho das vendas na Páscoa, diz Tegani. Hoje, o setor de moagem opera com capacidade ociosa e a exportação é residual, de 500 toneladas em 2014, basicamente para a Argentina, ante uma importação de 38 mil toneladas.
(Colaborou Eduardo Magossi.)
A desaceleração do crescimento econômico e um aumento nos preços têm derrubado a demanda da região por cacau, o principal ingrediente do chocolate, azedando as apostas de investidores, operadores do mercado e grandes companhias de alimentos depois de uma disparada no consumo nos últimos dez anos.
A quantidade de cacau processada por empresas asiáticas caiu 9,3% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a Associação de Cacau da Ásia, e especialistas do setor dizem que a China é responsável por grande parte do declínio. É a primeira vez que o dado, um indicador da demanda dos compradores, cai três trimestres seguidos desde que a associação começou a divulgar os relatórios, em 2011.
A queda já pesa sobre o mercado de futuros de cacau, que movimenta US$ 2,4 bilhões anualmente. Os contratos futuros já recuaram 9,3% ante um pico de três anos e meio atingido em setembro. Desde o início do ano, fundos de hedge e outros investidores reduziram em cerca de 56% suas apostas otimistas líquidas, de acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos Estados Unidos.
“A China é considerada por todos na indústria como a próxima fronteira do crescimento global”, diz Peter Johnson, diretor da Transmar Group, uma trading americana de cacau. “Se esse motor de crescimento desacelera, os preços dos grãos de cacau devem cair significativamente.”
A China tem como meta uma taxa de 7% de crescimento do PIB para este ano. Em 2014, a economia chinesa se expandiu 7,4%, o ritmo mais lento em 24 anos.
Em Johor, na Malásia, as vendas caíram na Guan Chong Berhad, empresa que transforma os grãos em manteiga de cacau e cacau em pó. Fabricantes de chocolate estão encomendando menos matéria-prima porque os consumidores da região simplesmente estão comendo menos, diz Jessy Chuah, gerente de vendas globais da processadora de cacau.
“Se as pessoas não sentem que a economia está boa, elas cortam o consumo do chocolate”, diz ela.
Um boom na demanda asiática — alimentada por um aumento da renda disponível — contribuiu para uma expansão de dez anos no mercado de cacau que alçou os preços a níveis recorde no início de 2011. Agora, os consumidores da Ásia e outras regiões estão recuando à medida que a economia desacelera e os preços sobem no varejo, dizem analistas e executivos da indústria.
Os preços de produtos de chocolate na China subiram 5,6% em 2014, segundo a firma de pesquisa de mercado Euromonitor International. E a tendência deve continuar. Em 2014, as grandes fabricantes de chocolates Mars, Inc., The Hershey Co. HSY -0.07% ,Nestlé SA, NESN.VX -0.14% Lindt & Sprüngli AG LISP.EB +0.30% e Mondelez International Inc. elevaram os preços para 2015 em até 8%.
É verdade que a demanda ainda está recebendo algum alento de outras partes do mercado. A Organização Internacional do Cacau previu, em fevereiro, que a produção global do grão vai ficar aquém da demanda este ano em 17 mil toneladas, o segundo déficit em três anos. Analistas estimam que a safra mais recente de Gana, segundo maior produtor do mundo, vai decepcionar, o que deve sustentar os preços nas próximas semanas.
David Martin, fundador da gestora Martin Fund Management, que administra US$ 95 milhões, está otimista porque acha que o enfraquecimento da demanda é temporário. “Você tem uma classe média crescente”, diz ele. “E eles estão aderindo a esses itens.”
A Hershey divulgou lucro menor que o esperado no primeiro trimestre devido a uma queda de 47% nas vendas chinesas e reduziu sua previsão de vendas internacionais para este ano.
Em fevereiro, executivos da Nestlé disseram que enfrentam desafios com o desempenho da empresa na região da Ásia e Oceania. A demanda fraca na Ásia acompanha a queda no consumo de cacau na América do Norte e na Europa. Estas são as duas maiores regiões consumidoras do mundo, embora venham apresentando um crescimento da demanda menor que o da Ásia.
No Brasil, o setor registrou queda de 9,5% no processamento durante o primeiro quadrimestre de 2015 em relação ao mesmo período do ano passado, com a moagem de 72 mil toneladas. “O mercado interno está fraco e a indústria do cacau está sofrendo”, diz Walter Tegani, secretário executivo da Associação Nacional da Indústria Processadora de Cacau (AIPC). Tegani acredita que o processamento vai encerrar em queda em 2015 pelo terceiro ano consecutivo. “Quando a economia se retrai e existe perigo de se perder o emprego, o consumidor corta o que considera supérfluo”, diz. O Brasil é hoje o sexto maior produtor de cacau do mundo. Na safra 2014/15 (maio de 2014 a abril de 2015), a produção medida pela AIPC atingiu 215 mil toneladas, abaixo das 290 mil toneladas registradas em 2012/13, que foi a maior em mais de 15 anos. A expectativa é que a safra 2015/16 registre nova queda devido à estiagem que atinge as regiões produtoras da Bahia e à redução no consumo de chocolate no mercado interno, já vislumbrada pelo fraco desempenho das vendas na Páscoa, diz Tegani. Hoje, o setor de moagem opera com capacidade ociosa e a exportação é residual, de 500 toneladas em 2014, basicamente para a Argentina, ante uma importação de 38 mil toneladas.
(Colaborou Eduardo Magossi.)
Correções & ampliações
Versão anterior deste artigo trazia um valor incorreto da produção de cacau brasileira de 2012/13 medida pela AIPC e não continha os dados de exportação de derivados de cacau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não permitiremos comentários ofensivos