segunda-feira, 14 de julho de 2014

Demanda crescente dos emergentes por chocolate eleva preços do cacau


Associated Press Guerreiros de terracota feitos de chocolate em um parque temático em Xangai, na China.

Há mais de dez anos, Anupama Amarnath aprendeu a fazer chocolate para seu marido, que tinha dificuldade em encontrar o produto em Bangalore, para satisfazer seus desejos.


Mas a demanda por seu chocolate, misturado e moldado em vários formatos, cresceu muito além de sua casa. Amarnath, de 50 anos, agora dirige uma cadeia de 11 lojas de varejo sob a marca Chocolate Junction na cidade indiana e suas proximidades e é dona de uma fábrica de chocolate de quase 1.000 metros quadrados.


Anos de rápido crescimento no consumo de chocolate na Índia e em outros mercados em desenvolvimento agitaram o mercado global de cacau de uma forma sem precedentes. Estima-se a fatia desses países nas vendas globais de chocolate este ano em 45%, de acordo com dados da firma de pesquisa de mercado Euromonitor. Há dez anos, era de 33%.


O apetite voraz nos países em desenvolvimento, da Índia até a Arábia Saudita e China, impulsionou este ano uma forte alta nos preços do cacau, o principal ingrediente do chocolate. Nos últimos dias, os contratos futuros de cacau, também sustentados pelo aumento do consumo nos mercados desenvolvidos, subiram para seus maiores níveis em quase três anos. Na Suíça, o maior consumidor per capita de chocolate do mundo, as vendas de chocolate devem subir 1,5% este ano, segundo estimativa da Euromonitor.


O aumento de 43% no preço do cacau nos últimos 12 meses até ontem fez do produto a segunda commodity com melhor desempenho no Índice de Commodities S&P GSCI, perdendo apenas para o níquel, que subiu 47%.


"A demanda dos mercados emergentes é a razão principal por trás do crescimento constante e consistente que estamos vendo no mercado de cacau", diz Sterling Smith, especialista em futuros do CitigroupC -0.08% em Chicago. "Existe demanda para elevar o preço ainda mais? Ah, sim."


Graças ao contínuo crescimento da renda nesses países, o chocolate passou de um luxo raro a um prazer acessível e seu consumo está se tornando um hábito diário. Essa mudança está sendo impulsionada por uma explosão de novos produtos, assim como melhorias na infraestrutura de transporte e refrigeração facilitaram a distribuição de barras de chocolate e bombons.


"Podemos colocar sua foto no chocolate, moldar o logotipo de uma empresa ou fazer buquês de chocolate, montados como uma flor", disse Amarnath. "Há uma grande demanda, contanto que seja de qualidade."


Muitos investidores e analistas afirmam ter notado como é grande a influência da demanda dos países emergentes no mercado de cacau de US$ 6,6 bilhões depois que os preços continuaram a subir apesar de informações no mês passado de que o principal produtor de cacau do mundo, a Costa do Marfim, está registrando uma safra recorde.


O cacau para entrega em julho, o vencimento mais próximo, terminou a terça-feira com alta de 0,6%, a US$ 3.134 por tonelada. Ontem, ele recuou um pouco, fechando em US$ 3.113. O contrato atingiu US$ 3.153 em 27 de junho, o maior nível registrado ao longo do pregão desde 22 de julho de 2011.


A alta nos futuros de cacau já levou os fabricantes de chocolate a aumentarem os preços em todo o mundo. A previsão é que um quilo de chocolate custe, em média, US$ 12,62 neste ano nos Estados Unidos, um aumento de 2% em relação ao ano passado e de 18% em comparação a cinco anos, segundo a Euromonitor.


Investidores e fabricantes de chocolate estão apostando que os chocólatras continuarão engolindo esses aumentos de preços. Gestores de fundos, fundos de hedge e outros investidores impulsionaram suas apostas na alta nos futuros de cacau em 45% nas últimas oito semanas, segundo a Comissão de Negociações de Futuros de Commodities.


A CFG Asset Management, uma consultoria de investimentos que administra cerca de US$ 335 milhões, comprou em novembro ações do papel negociado em bolsa da iPath Pure Beta Cocoa, um título que tem como objetivo seguir os preços do cacau. Matt Forester, o diretor de investimento da empresa, ampliou a posição em meados de junho, devido às preocupações com a oferta diante do aumento da demanda.


As vendas da Índia devem crescer 14% este ano, de acordo com as estimativas da Euromonitor. E a China é atualmente o oitavo maior consumidor de chocolate do mundo. Em 2010, ocupava o décimo lugar.


As vendas globais de chocolate devem atingir um recorde de 7,5 milhões de toneladas em 2014, tendo acelerado nos últimos três anos, segundo a Euromonitor.


Fabricantes multinacionais têm expandido suas linhas de produtos e comprado empresas locais. Em dezembro, a gigante americana Hershey Co., HSY -0.30% por exemplo, aceitou comprar a chinesa Shanghai Golden Monkey Food Joint Stock Co. para fortalecer sua presença no país asiático. A Hershey informou que espera que a China se torne o seu segundo maior mercado, após os EUA, em 2017.


Nem todos os especialistas de mercado acreditam que a demanda dos mercados emergentes continuará a subir, citando uma desaceleração que atingiu muitos mercados de câmbio, títulos e ações em economias em desenvolvimento.


"A demanda dos mercados emergentes deveria ser um ponto brilhante, e não vejo isso acontecendo se os indicadores econômicos tiverem qualquer correlação real com o consumo de chocolate", diz Judy Ganes, presidente da J Ganes Consulting LLC, uma empresa especializada nos setores agrícola e de alimentos. Ela especificamente apontou para indicadores de crescimento lento em grandes mercados como o Brasil e Índia.


Ainda assim, executivos de empresas de alimentos dizem que ainda há muito espaço para a demanda crescer, considerando as grandes populações e a relativamente baixa penetração desse mercado nos países mais pobres.


"Quando de cada dez indianos, entre oito e nove ainda não comem chocolate, existe uma oportunidade de crescimento", diz Mayur Bhargava, gerente geral de chocolate e doces daNestlé Índia 500790.BY -0.58% .





Na Ásia, o volume de sementes de cacau transformadas em ingredientes básicos, como cacau em pó e manteiga, cresceu 3,7% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a Associação de Cacau da Ásia. Investidores consideram esses processadores de cacau indicadores da demanda. O próximo resultado deve sair este mês.


Em Pequim, no mês passado, Sun Ji, de 34 anos, gastou US$ 800 em chocolates na loja da Godiva Chocolatier para estocar para sua festa de casamento, em agosto. Não apenas sua família tem consumido mais chocolate no último ano, mas o produto se tornou um presente popular entre amigos e colegas, diz Sun, que trabalha no setor de tecnologia de informação, ressaltando que o aumento dos preços não deve reduzir o desejo pelo chocolate.


"O preço subiu um pouco este ano, mas aumentos de 20% ou mesmo de 30% não irão nos impedir de comprar", disse Sun.

Por  ALEXANDRA WEXLER e  BIMAN MUKHERJI
CONNECT
(Colaboraram Neena Rai e Dantong Ma.)

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