sexta-feira, 23 de abril de 2021

O TRABALHO ESCRAVO NO CACAU DA BAHIA

Trabalho de pesquisa e investigação realizada pela instituição  ( REPÓRTER BRASIL ORGANIZAÇÃO DE COMUNICAÇÃO E PROJETOS SOCIAIS ).

Trata-se das violações aos direitos dos trabalhadores da indústria do cacau é o tema do sexto número do Monitor, boletim que divulga os estudos setoriais e de cadeia produtiva da Repórter Brasil, sobre a eventual aquisição de insumos oriundos, ainda que indiretamente, do grupo Chaves, da Fazenda Boa União ou da Fazenda Sete Léguas. Empresas acusadas de violação dos trabalhos.

Aqui apresentaremos parte desse trabalho investigativo, no Brasil, mediante o posicionamento das principais empresas que compram e exploram o cacau direta e indiretamente no mundo.


A maior fabrica de chocolate do mundo fica em Curitiba(PR) e pertence a Mondelez

Observação do Blog: Por que não construir nos estados que cultivam o cacau? Bahia, Pará, Espirito Santo. O cacau absorve as melhores faixas de solo desses estados e na hora de compensar ,investem em outras regiões, beneficiando diretamente a uma mão de obra sem nenhuma relação de origem com a matéria prima!.

A Mondelez

A EMPRESA A Mondelez é uma multinacional norte-americana presente em mais de 150 países. Sua operação no Brasil é a quarta maior em nível global. Possui no país dois parques industriais produtores de chocolates, um em Curitiba (PR) e outro em Vitória de Santo Antão (PE). A linha nacional de chocolates da Mondelēz inclui marcas como Bis, Diamante Negro, Ouro Branco, Sonho de Valsa e Toblerone.

POSICIONAMENTO

A empresa não respondeu às perguntas encaminhadas pela Repórter Brasil sobre a eventual aquisição de insumos oriundos, ainda que indiretamente, do grupo Chaves, da Fazenda Boa União ou da Fazenda Sete Léguas. Também não respondeu sobre o percentual dos subprodutos de cacau adquiridos a respeito do qual a multinacional conhece a fazenda de origem. Encaminhou, no entanto, uma nota afirmando que “a Mondelēz  Internacional vem atuando, em conjunto com parceiros, governo e demais empresas do setor, na sustentabilidade da cadeia de diferentes insumos e, em especial, a do cacau”. Segundo a empresa, os contratos com fornecedores determinam a proibição da aquisição de cacau oriundo de fazendas que usem trabalho escravo ou infantil. “A rastreabilidade das amêndoas está dentro do escopo para garantir o cumprimento dos respectivos códigos de conduta, passíveis de rompimento de contrato em caso de violação. Com o nosso programa global de sustentabilidade do cacau, o Cocoa Life, atuamos com o objetivo de ampliar a rede de produtores no Brasil para garantir um monitoramento mais assertivo de toda a cadeia”, afirma a multinacional.

 Olam

A EMPRESA Criada em 1989 e sediada em Singapura, a Olam é uma das maiores tradings globais de produtos agrícolas. Tem atuação destacada no comércio de cacau, café, algodão, nozes e especiarias. No Brasil, adquire cacau no Pará e na Bahia.

Desde 2015, controla uma importante indústria processadora da amêndoa em Ilhéus (BA).

POSICIONAMENTO

A Repórter Brasil encaminhou à Olam perguntas sobre as conexões da multinacional com o grupo Chaves. Também questionou a empresa sobre seu relacionamento com atravessadores ligados às fazendas  Boa União e Sete Voltas. Além disso, foram enviadas também indagações sobre a rastreabilidade do cacau – por exemplo, se a empresa conhece a origem da produção negociada através de intermediários. A empresa não respondeu diretamente aos questionamentos. Encaminhou, no entanto, o seguinte comunicado:

“Conforme detalhado na nossa estratégia Cacau Compass20, nós estamos comprometidos com a cadeia de suprimento do cacau na qual os produtores podem ter sua renda e na qual as crianças são protegidas”.

Nós temos robustas políticas e sistemas de monitoramento para salvaguardar os direitos humanos e trabalhar próximos de nossos fornecedores para assegurar sua adesão ao Código de Fornecedor da Olam. Se encontrarmos qualquer evidência que há uma violação em algum de nossos fornecedores, nós tomamos isso muito seriamente e investigamos completamente.

 Barry Callebaut

A EMPRESA A multinacional suíça Barry Callebaut é uma das líderes mundiais na fabricação de produtos de cacau e chocolate. Opera em mais de 140 países, e possui 62 plantas industriais. Possui duas plantas de moagem na Bahia, em Ilhéus e Itabuna. Também opera uma fábrica de chocolate em Extrema (MG), fabricante da “Sicao”, a marca regional do grupo. 

POSICIONAMENTO 

A Barry Callebaut informou à Repórter Brasil que não recebe cacau do grupo Chaves desde julho de 2019. Ou seja, o relacionamento comercial foi interrompido dois anos após o caso de trabalho escravo. A empresa afirmou que o término ocorreu após serem descobertas violações ao seu Código de Conduta para fornecedores. Sobre o seu relacionamento comercial com atravessadores, a empresa afirmou que, por motivos concorrenciais, não divulga publicamente quem são os seus fornecedores. Perguntamos também se a Barry Callebaut conhece a identidade de todas as fazendas que fornecem cacau através de intermediários. Em resposta, a empresa afirmou que está estabelecendo um sistema de rastreabilidade para identificar a fonte dos grãos comprados por essa via. Disse também que a expansão de compras feitas diretamente dos fazendeiros é um dos planos para o Brasil. Além disso, a empresa descreveu outras ações adotadas para evitar violações de direitos humanos e trabalhistas na cadeia produtiva. Por exemplo, todos os fornecedores precisam assinar um Código de Conduta prevendo boas práticas. A Barry Callebaut também informou restringir negócios com empregadores inseridos na “lista suja” do trabalho escravo.

Cargill

A EMPRESA Um dos maiores conglomerados do agronegócio global, a Cargill atua no comércio e no processamento de diversas commodities. É um dos líderes mundiais nos segmentos de cacau e chocolate. Controla uma planta de moagem em Ilhéus (BA) desde a década de 1980. Adquire amêndoas nos polos produtores do Pará e da Bahia, além de também importar parte da matéria-prima processada no Brasil. 

POSICIONAMENTO

 Procurada, a Cargill informou que as fazendas Boa União e Sete Voltas não figuram entre os seus fornecedores diretos, e que “não tem conhecimento da forma como que essas fazendas comercializam as suas respectivas produções.” A empresa não respondeu se conhece a origem do cacau adquirido através de intermediários. Nos últimos dois anos, no entanto, afirma ter aberto quatro novos armazéns com o objetivo de ampliar as compras feitas sem atravessadores. “Hoje, a Cargill compra mais de 20% diretamente de produtores e nosso objetivo é fechar este ano fiscal (maio/21) com 30% de compras diretas”, diz a empresa. A multinacional também afirmou estar comprometida em alcançar, até 2025, zero incidência de trabalho infantil na cadeia de suprimento de cacau. Disse ainda que, quando são identificados fornecedores na “lista suja” do trabalho escravo, ou, ainda, responsabilizados em ações do MPT, a empresa adota medidas para suspendê-los imediatamente. “Exigimos que nossos fornecedores e parceiros se juntem a nós na priorização da segurança, bem-estar e dignidade dos indivíduos”, afirma a Cargill.

Nestlé

Trata-se de uma das maiores companhias mundiais de alimentos e bebidas. Está presente em 191 países, onde vende os seus produtos por meio de mais de duas mil marcas. O portfólio de chocolates na Nestlé do Brasil inclui líderes de mercado como Alpino, Batom, Prestígio e Kit Kat. A empresa também é dona dos chocolates Garoto, marca de origem brasileira que fundiu suas operações com a Nestlé.

POSICIONAMENTO 

A Nestlé afirma possuir um rígido processo de rastreabilidade para excluir fornecedores fora de conformidade. Segundo a multinacional, isso foi efetivamente feito no caso do grupo Chaves. “Não recebemos mais derivados de cacau feitos com amêndoas das propriedades do referido grupo”, diz a empresa. Todas as propriedades autuadas por trabalho em condição análoga à de escravo, diz a Nestlé, são excluídas do programa global Nestlé Cocoa Plan (NCP). Trata-se de uma iniciativa voltada ao fomento da produção responsável. Ela atende fazendeiros, cooperativas e parceiros agrícolas. “As propriedades que se candidatam a entrar passam por consulta prévia a bancos de dados oficiais, que incluem a certidão de débitos trabalhistas”, afirma a multinacional. A empresa ressalta ainda realizar inspeções na cadeia produtiva por meios de uma equipe própria e de auditorias independentes. Ressaltou, por fim, que não compra amêndoas de cacau de fazendeiros ou atravessadores, mas sim derivados – como licor, pó e manteiga – das indústrias de moagem. 

 CONDIÇÕES TRABALHISTAS

 Violações de direitos trabalhistas básicos ainda estão muito presentes nas lavouras de cacau brasileiras. Em casos mais graves, a escravidão contemporânea – principalmente por conta das condições degradantes de alojamento e higiene – e o trabalho infantil também podem ser encontrados no setor. É verdade que os flagrantes de trabalho infantil ou escravo são menos frequentes na comparação com outros segmentos da agropecuária, como a criação de gado e o cultivo de café. No entanto, trata-se de uma cultura também menos fiscalizada. O aumento das inspeções, defendida por órgãos como a OIT e o MPT, pode mudar a percepção sobre o tamanho do problema. Nesse cenário de invisibilidade, a maciça disseminação dos contratos de parceria ajuda a mascarar más condições impostas à mão de obra. Em muitos casos, fica evidente uso fraudulento da modalidade. Contratos de parceria são utilizados para encobrir o que, no cotidiano das fazendas, são típicas relações entre patrões e empregados. Diversos exemplos mostram “parceiros” sem a autonomia e as demais salvaguardas que a lei garante a esse tipo de relação contratual. Ao mesmo tempo, ao serem arregimentados nessa condição, eles podem ter rendas inferiores ao salário mínimo e ficar alijados das regras de proteção ao trabalho ofertadas pela carteira assinada.

RASTREABILIDADE

No Brasil, as piores formas de exploração do trabalho em meio rural estão associadas a cadeias produtivas longas. Redes de escoamento onde a matéria-prima passa por diversos donos e processos industriais entre as fazendas e o consumidor final. O cacau não é exceção. Entre as fazendas e as indústrias de moagem, há uma figura chave na cadeia de suprimento cacaueira: o atravessador. É através dele que a maior parte das amêndoas colhidas no país chega às três multinacionais que controlam o esmagamento. Trata-se de um mercado muito pulverizado e regionalizado. Ele inclui até mesmo pequenos compradores que vendem o produto a comerciantes maiores antes de o cacau chegar à indústria. Parte desse comércio ocorre inclusive na informalidade, sem qualquer tipo de registro oficial das transações. Nesse cenário, é seguro dizer que grande parte da produção de cacau chega hoje às indústrias sem informação de origem – e, portanto, sem qualquer tipo de monitoramento eficiente sobre as condições trabalhistas empregadas no campo.

POLÍTICAS CORPORATIVAS

Os casos apurados pela Repórter Brasil evidenciam que as três grandes indústrias processadoras de cacau – Barry Callebaut, Cargill e Olam – estão expostas a violações de direitos trabalhistas, e até mesmo a casos de trabalho escravo, em suas cadeias de negócios. Especialmente, é claro, nas redes de fornecimento que envolvem atravessadores. Entre outras medidas de prevenção e monitoramento, Barry Callebaut e Cargill informaram consultar a “lista suja” do trabalho escravo para restringir negócios com empregadores flagrados incorrendo no crime. Uma prática em grande medida ineficaz quando há falta de informação sobre os fornecedores indiretos – ou seja, aqueles que abastecem a empresa por meio de intermediários. Nenhuma das empresas apresentou evidências efetivas sobre a rastreabilidade do cacau oriundo de atravessadores. E somente a Cargill revelou dados sobre o percentual adquirido diretamente de fazendas – entre 20% e 30%, segundo a empresa. Consequentemente, para além das moageiras, a falta de rastreabilidade também expõe os demais elos da cadeia produtiva às diversas violações flagradas no setor. Entre eles as indústrias de chocolate, o varejo de alimentos e o próprio consumidor final.

 CERTIFICAÇÃO

Um dos casos de trabalho escravo descritos nesse relatório – grupo Chaves – ocorreu justamente numa fazenda que, de acordo com a apuração da Repórter Brasil, obteve o selo de boas práticas da UTZ, a maior certificadora de cacau do mundo. Não foi a primeira vez que fazendeiros ligados à entidade foram responsabilizados pelo emprego de mão de obra escrava no país. Em anos recentes, casos semelhantes já ocorreram em lavouras de café no sul de Minas Gerais. No caso do grupo Chaves, a concessão do selo ocorreu meses após o flagrante de escravidão. E, quando procurada, a UTZ afirmou que certificado do grupo não estava mais ativo. No entanto, a entidade nada respondeu sobre a data do descredenciamento, os motivos envolvidos ou a eventual identificação de irregularidades trabalhistas nas auditorias internas do selo. Persiste, além disso, uma falta de transparência mais abrangente em relação à identidade das fazendas certificadas pela UTZ – problema já tratado pela Repórter Brasil em outros relatórios. A empresa não disponibiliza publicamente a lista de todas as propriedades rurais abrangidas pelo selo.


Fonte: REPÓRTER BRASIL ORGANIZAÇÃO DE COMUNICAÇÃO E PROJETOS SOCIAIS e os demais grifos e acréscimos de responsabilidade do blog

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